[RESENHA] PRAGA - Michael Grant


O terror já se tornou parte da vida dos habitantes do LGAR. Eles sobreviveram à fome, às mentiras e ao mais completo caos. Agora parecem ter uma trégua. Caine foi exilado em uma ilha, e Drake, que voltou ainda mais cruel e doentio – e agora imortal –, está preso. Mas, no LGAR, os problemas não somem assim tão facilmente. Enquanto a água acaba e a sede se torna insuportável, uma gripe fatal e contagiosa se espalha por Praia Perdida. E na floresta, um parasita transmitido pelas cobras voadoras dá origem a insetos malignos, gigantes e predadores que aterrorizam os habitantes do LGAR.”

(Fonte: skoob)




Antes de tudo, devo dizer que Praga é o quarto livro da série Gone – O mundo termina aqui (são seis livros no total), escrito pelo autor Michael Grant. Devo acrescentar ainda que até hoje não entendo as razões que não tornaram essa série tão conhecida pelo Brasil. Sempre me perguntei se foi por causa do preço, do tamanho dos livros, da divulgação, enfim, diversas possibilidades, mas nenhuma delas parece plausível (pelo menos não o suficiente).

De qualquer maneira, digo isso justamente por ser fã dessa série e uma das maiores dificuldades que tenho é achar coisas relacionadas a ela – sejam fanarts, fanfics ou qualquer outro meio de entretenimento. Claro, pode ser que eu não esteja procurando do jeito certo também ou então, justamente por amar cada uma dessas obras, gostaria que recebesse o devido reconhecimento.

Aliás, um destaque importante para as capas nacionais, que na minha opinião, são bem melhores que as originais, não só pelo título impactante como também pelas silhuetas que revelam parte do que vai acontecer na história.

Por isso, se você ainda não leu a obra, se nunca ouviu falar dela, já deixo a recomendação aqui e agora darei alguns dos motivos para amar o universo que o Michael Grant criou, focando no livro que acabei de ler: Praga.

A narrativa, em todos os livros, é voltada não apenas para um único personagem, mas para vários e eu, particularmente, adoro isso, uma vez que vemos diferentes visões acerca dos mesmos acontecimentos e também passamos a compreender melhor cada personagem, nas suas ações e sentimentos.
“— Sam, você ainda é o líder. Sempre vai ser o líder. Não é uma coisa que você escolhe, é uma coisa que você é.” 
Outro ponto alto presente no atual livro é a crueldade e a genialidade do autor e digo isso com base no ambiente que ele criou desde o primeiro livro até o livro atual: os adultos sumiram e as crianças precisaram aprender a se virar. Num primeiro instante, foi só felicidade, não havia ninguém para controlá-las, dar ordens. Porém, com o tempo, as coisas foram piorando: ficaram sem comida, sem água, sem energia, enfim, virou um ambiente onde o homem era o lobo do próprio homem, como afirmou Thomas Hobbes.

Um ambiente de caos nasceu. Ninguém sabia em quem confiar, crianças andavam armadas outras tentaram criar um sistema para manter o controle, sendo que aos poucos ele foi apresentando seus defeitos, foi ruindo. Para piorar a situação, algumas das crianças desenvolveram poderes sobrenaturais, sendo que umas usariam esses poderes para o bem e outras nem tanto. Além disso, surgiram seres inimagináveis – cobras que voavam e cuspiam veneno, coiotes que falam e por aí vai.

No livro Praga, há ainda uma gripe intensa afetando as crianças, onde elas tossem tão forte que cospem os próprios pulmões e mais: insetos gigantes nascem de dentro do corpo das pessoas, comendo-as de dentro para fora. Inclusive, pode ser essa outra das razões para a série não ter feito muito sucesso: é preciso ter um estômago forte para encarar muitas situações do LGAR.

Vale ressaltar que esses são apenas os problemas físicos sofridos pelas crianças. Há ainda os problemas psicológicos. A saudade dos pais, a saudade da vida anterior e também o pensamento de como seria se eles conseguissem fugir do LGAR. Afinal, não eram mais as mesmas pessoas, alguns acreditavam que haviam virado verdadeiros monstros: mataram pessoas para sobreviver – assassinato, canibalismo, chantagens, traições, mentiras, medo. Muita coisa havia acontecido e muita gente não tinha estômago para aquilo, mas sim, sim, havia crianças que estavam se acostumando com o LGAR, que gostavam do poder e da influência que exerciam ali.
- E é por isso que o mundo permanece bagunçado - disse baixinho. - As pessoas não são racionais. 
Respirou fundo algumas vezes para se firmar e se preparou para morrer pelo poder.
Aos poucos o LGAR vai se revelando mais e mais sombrio, entretanto, também dá pistas de como surgiu, ainda que ninguém saiba ao certo como escapar e se há escapatória. Ao longo do livro, acompanhamos a mudança de muitos personagens, as crises existenciais de vários deles e como isso os afetou de forma plena e intensa. Muitos deles desejam morrer a continuar vivendo naquelas condições e outros continuam lutando, mas sem saber o motivo. Fé? Esperança? Medo de morrer?

Também é interessante apontar que por mais que agiam como adultos, vez ou outro vinha aquele relampejo na história, mostrando que, apesar de tudo, ainda eram crianças. Queriam brincar, jogar videogames, sentir que aquilo não era real. Por isso algumas acabaram se entregando às bebidas, para fugir desse mundo de loucuras, mesmo que por um instante. Até mesmo quem repudiava esse tipo de coisa.

Cada personagem é intenso e verdadeiro no que faz, inclusive, outro ponto para Michael Grant ao criar seus personagens: há representatividade – mulheres, negros, homossexuais, imigrantes. Além disso, um dos personagens principais é autista.

Tudo e todos estão presentes nessa série e o mais importante é que eles não apresentam um papel secundário, muito pelo contrário, são peças importantes para a história, com características fortes e marcantes. Como exemplo gostaria de citar a Dekka, ela é negra e lésbica e comenta o tempo todo sobre isso, dizendo que já conhecia as dificuldades de ser diferente num mundo padronizado e que se eles saíssem do LGAR muito provavelmente não seriam vistos como heróis, mas sim como aberrações e acabariam sendo marginalizados, como ela havia sido.

Realmente, é um lugar onde coisas inimagináveis acontecem, onde dormir é quase impossível, por causa dos pesadelos, dos sentimentos ruins, da desconfiança. Mesmo assim, há momentos de felicidade, de um pouco de glória e também espaço para piadas. Inclusive, essas piadas, geralmente feitas pelo protagonista Sam Temple, me lembraram muito dos momentos cômicos do personagem Percy Jackson (escrito pelo Rick Riordan). Aquele humor sarcástico e icônico, sempre muito bem-vindo nos livros do gênero.
- Eu gostaria que vocês não tivessem me achado - disse Totó. - Eu era mais feliz sozinho. 
- É. Desculpe - respondeu Sam.
Só posso dizer que a cada página eu ficava com mais e mais vontade de ler. Foi realmente impossível largar o livro depois de certo momento e tudo que mais quero é poder devorar as páginas do quinto livro, que se chama MEDO. O título por si só já é muito convidativo e como disseram por aí, tenho medo do que está por vir.

A série Gone é uma história que faz você se apegar aos personagens e pensar: não quero que eles morram, mas também não quero que continuem vivendo nessas condições. Não sei o que é melhor. Não sei para quem torcer ou pelo que esperar. Só sei que os personagens me conquistaram e o enredo é excelente.
(…) também queria gritar. Mas não de horror. E sim com um triunfo puro, maligno. Queria dançar e se sujar com o sangue do inimigo derrotado. Queria saltar em cima dos pedaços do corpo e chutá-los com desprezo. 
Uma das minhas críticas negativas, e talvez a única, é que o autor falha na descrição algumas vezes, principalmente quando são cenas de ação, a ponto de eu não conseguir visualizar direito o que está acontecendo. Felizmente, nas cenas onde ele descreve os pensamentos/sentimentos de cada personagem, e que são as partes que eu mais gosto, ele sempre foi impecável. 

Também disseram que teve muita ação no livro, mas que não chegou a lugar algum. Sendo bem honesta, isso não me incomoda. Ainda temos dois livros pela frente e sinto que as coisas só vão ser reveladas lá no final, então estou super bem em relação à isso. 


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Stephen King disse que ama esses livros caracterizados como YA (Young Adult) e eu digo que ele não está sozinho.

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